Pessoas Assexuais: o que está por trás, como reconhecer e lidar com a condição?
Psicóloga especialista em sexualidade e colunista da Diversa+, Carolina Freitas explica que assexualidade não é sobre celibato, falta de libido, abstinência sexual, tampouco está relacionada a traumas

As orientações afetivo-sexuais são um dos aspectos da personalidade, uma forma de expressar a identidade. E a conversa sobre elas deve estar sempre “em construção”, pois somos seres fluidos e em constante processo de aprendizado sobre nós mesmas e as formas de estar no mundo.
Nosso diálogo hoje é sobre assexualidades, uma das orientações afetivo-sexuais conhecidas. As pessoas assexuais podem ter relações sexuais ou não. Podem, sim, sentir prazer nas relações sexuais. Somente não são pautadas na atração sexual em si. É a maneira como as atrações acontecem.
Por definição, assexualidade é a ausência total, parcial, condicional ou circunstancial de atração sexual. Logo, quando falamos sobre assexualidade, estamos falando sobre atração sexual. Não é sobre celibato, falta de libido, escolha, abstinência e nem está relacionada a traumas.
Assexuais são pessoas que não sentem atração sexual, ou sentem raramente e em determinadas circunstâncias. Existem outras atrações, como a romântica e afetiva, que podem existir por outras pessoas.
Mas é possível viver sem sexo? Essa é uma pergunta recorrente em meus atendimentos clínicos e na plataforma Sexo sem Dúvida. E eu te respondo prontamente, sim é possível. Sim, a assexualidade existe.
E a pessoa é assexual e não assexuada! Então, quem são as pessoas assexuais? Te convido a compreender sobre esta possibilidade de viver a sexualidade, a assexualidade.
Vou começar por quem elas NÃO são. A assexualidade não deve ser patologizada, não há nada a ser curado. Não é transtorno do desejo sexual. Lembra do ciclo da resposta sexual humana? Então, a pessoa assexual pode ter desejo, se excitar e ter orgasmo. Ela não tem dificuldades sexuais, não é baixo nível de desejo sexual. É sobre atração sexual, sua ausência ou pouco interesse sexual por outra pessoa.
Já a pessoa celibatária tem desejo sexual, sente atração sexual, mas, por razões, sejam pessoais, religiosas ou médicas, escolhe não ter vida sexual ativa. A abstinência sexual é uma escolha, a assexualidade não é.
Assexualidade também não está relacionada a traumas sexuais e/ou relacionais. Em alguns casos de violência sexual, a vítima pode desenvolver aversão ao sexo. Mas as pessoas assexuais simplesmente não sentem atração sexual, ou quando sentem, é circunstancial ou pouca. É sobre não haver interesse na atividade sexual e não sobre violências.

No que diz respeito às vivências, as pessoas assexuais podem se relacionar sexualmente a depender da parceria e do relacionamento. Por exemplo, há os assexuais fluidos que sentem atração sexual em algumas situações e os demissexuais, que sentem atração sexual a depender do vínculo afetivo e/ou romântico.
Quanto à masturbação, este é um comportamento sexual que depende da vivência de cada pessoa, independente de orientação afetivo-sexual.
Por fim, então quem são as pessoas assexuais? São aquelas que podem ser felizes. Se há infelicidade, é por conta das circunstâncias da vida, como acontece com todas as pessoas, e não por serem assexuais. Elas se apaixonam, vivem, se divertem, trabalham e estudam, estão por aí ao nosso redor. Apenas sentem atração sexual de outra forma, ou não sentem.
A atividade sexual não é prioridade em suas vidas e elas sabem que prática sexual não é regra de relacionamento e que sexo e amor não são sinônimos.
O autoconhecimento é a chave para a compreensão da sua sexualidade. Assexualidade não é doença e nem disfunção sexual. Não existe sofrimento em ser assexual, o sofrimento vem das violências e invisibilidades cometidas pela sociedade.
Para uma sociedade tão erotizada, fica difícil compreender a assexualidade, pois o sexo é vendido, exposto, explorado de diversas formas pela mídia, nas relações, na educação e na saúde. Então, deixo hoje uma reflexão: Sexo é prazer ou obrigação?
É importante conhecer para respeitar. Se o tema te interessa e quer saber mais te convido a conhecer o Coletivo Abrace, grupo em defesa e visibilidade de questões e vivências das assexualidades. Siga o perfil: @coletivoabrace.
Texto publicado originalmente em ND+
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