Aliada ou inimiga do prazer? Pornografia distancia sexo real e pode minar relacionamentos
Recheada de mitos, crenças e expectativas irreais, a pornografia pode interferir negativamente nas vivências sexuais e relacionais
O cenário do consumo de pornografia já vinha mudando com a chegada dos conteúdos online, de acesso fácil e rápido. E a pandemia escancarou e aumentou este fenômeno de forma desregrada.
Então, se os seus relacionamentos e a sua vida sexual vêm sendo pautados pela pornografia, atenção! Isso pode estar recheado de mitos, crenças e expectativas irreais que podem interferir negativamente nas vivências sexuais e relacionais.
Aqui, não vamos dialogar sobre vício nem compulsão, apenas em consumo de conteúdo pornográfico. Também não vou te sugerir um conteúdo erótico adequado para você. Os conteúdos são diversos e é você quem sabe o que te excita e o que te dá prazer. Se o conteúdo pornográfico é do seu interesse, você pode fazer a sua própria busca dentro do que é erótico e adequado para você.
Como a pornografia foi pensada para entretenimento, obviamente há um quê de exageros. As cenas são construídas (luz, câmera, ação!) com conteúdos para despertar excitação, não educação sexual. E, como precisa abarcar diversas pessoas para ser lucrativo para a indústria pornográfica, os estímulos sexuais são intensos e diversos. Logo, não é a vida real. Aquilo ali é ficção.
Os pênis, na maioria das vezes, são filmados para parecerem maiores ou foram cirurgicamente reconstruídos para tal. Há também a exposição de ereções demoradas, que não são sinônimos de saúde sexual. As vulvas são rosadas, sem pelos, e se lubrificam, excessivamente, de forma rápida e fácil. Tudo ao mesmo – e em pouco – tempo.
Os corpos e as funções sexuais existem (incluindo a ejaculação feminina), porém, ali os parâmetros são outros, o que contribui com a deseducação sexual. Não raro, na indústria pornográfica os homens e seus pênis são enaltecidos. Já as mulheres, objetificada e sexualmente banalizadas. Você imagina como isso pode afetar suas vivências sexuais e seu relacionamento?
Eu percebo em meus atendimentos clínicos em psicologia e sexologia, tanto no consultório quando na plataforma Sexo sem Dúvida, a banalização do consumo da pornografia. As consequências pessoais e relacionais são diversas e impactantes: autoestima abalada, culto ao corpo, dificuldades relacionais e disfunções sexuais.
Construção da vida sexual
A vida sexual deve ser aprendida e construída desde os primeiros contatos com a sexualidade. A partir das suas vivências sexuais, das suas descobertas, do que é adequado sexualmente para você. Isso passa pelo autoconhecimento sobre o que te excita e dá prazer e, sobretudo, onde você conhecerá o sexo saudável. Com o seu corpo, nas suas relações, na vida real.
E quando eu trago a pornografia para a minha vida sexual?
A confusão pode ser estabelecida a depender das expectativa e crenças sexuais. Se for, por exemplo, aguardada uma ereção constante e por horas (o que não é compatível com a saúde sexual), uma cara de dor lida como cara de prazer, corpos com aquelas únicas proporções, tamanhos, cores e funções, lembre-se: você está consumindo, mas tem uma indústria que está produzindo desta forma. A ideia pode parecer boa, mas a prática dela não.
Mas pode ser bom? Se você entender o que é o sexo saudável e o que te excita, o consumo da pornografia pode, sim, te levar a estímulos sexuais altamente prazerosos e consentidos. Porém, requer cuidados (como todos os excessos da vida!).
Quanto maior o consumo de pornografia, menor o interesse na atividade sexual real, pois o hábito da pornografia pode alterar o modo como você enxerga a relação sexual.
E como a pornografia está absolutamente associada a uma visão machista, mesmo já existindo uma produção de pornografia feminista, fenômeno recente, é preciso cautela no consumo dentro do relacionamento para não afetar a confiança entre o casal, a intimidade, autoestima e a vida sexual de maneira geral.
Aquela performance é criada, não vivenciada. Permita-se vivenciar experiências reais, com o seu corpo real, em suas relações reais. Para isso é preciso abraçar seus sentidos: tato, olfato, paladar, audição, visão e, eu incluo ainda, a intuição.
Texto publicado originalmente em ND+
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