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Foto do escritorCarolina Freitas

Onlyfans: empoderamento ou mais uma forma de objetificar mulheres?

Monetizar a hipersexualização das mulheres é mesmo uma forma de empoderamento ou um comportamento ainda galgado no que é tradicional e patriarcal?


Mulher monetizando no Onlyfans
Imagem original por @charlesdeluvio, no perfil do Unsplash.com.

Se você ainda não ouviu falar na plataforma OnlyFans, saiba que é uma rede social que permite a criação de conteúdos exclusivos e a conexão com seguidores (as), conhecidos como fãs, de forma monetizada.

De nudes a conteúdos sexualmente explícitos, a plataforma ganhou força no período de isolamento social provocado pela pandemia de Covid-19. Estes conteúdos podem ser consumidos através de uma assinatura digital, restrita a maiores de 18 anos com conta bancária habilitada para transações internacionais, já que os pagamentos são feitos em dólar.

Vamos precisar definir dois conceitos para iniciar a nossa conversa de hoje: objetificação e empoderamento. Termos que vêm sendo amplamente confundidos em nome de uma liberdade feminina e que também são usados com frequência por pacientes que buscam psicoterapia da sexualidade em meu consultório e nos atendimentos online realizados por meio da plataforma Sexo sem Dúvida. Vamos às definições:

Objetificação: segundo o dicionário Aurélio online, a palavra significa “processo que atribui ao ser humano a natureza de um objeto material, tratando-o como um objeto ou coisa; coisificação”. Ou seja, a pessoa enquanto objeto, sendo a aparência a característica mais importante.

Empoderamento: também pela definição do mesmo dicionário, “ação de se tornar poderoso, de passar a ter poder, autoridade, domínio sobre…” Aqui, no caso, a mulher tomando o poder sobre si e exercendo-o em sua plenitude. Lembrando que o termo está ligado ao coletivo e à busca por equidade de gênero.


Diante dessas perspectivas, o OnlyFans propicia empoderamento feminino ou uma nova forma de objetificação das mulheres?


O OnlyFans é uma plataforma na qual mulheres – que já trabalhavam ou não – com a indústria pornográfica podem controlar suas imagens, o que fazem com seus corpos, com seu tempo e o dinheiro que geram com isso. Evitam possíveis abusos cometidos pela indústria pornográfica, mas ficam mais vulneráveis à violência digital.

Se a mulher tem de estar com o corpo dentro de um padrão ou atendendo especificamente a um fetiche, a liberdade de escolha pode estar sendo usada como exploração. E quem lucra com isso? O feminismo, decerto, não é. Pois as mulheres (me incluo aqui) só terão liberdade de escolha quando a sociedade for igualitária. Monetizar a sexualidade e a sensualidade não é empoderamento. A banalização da sexualidade não é empoderamento.

A independência financeira da mulher pressupõe fator imprescindível para sua autonomia. Muitas mulheres têm aberto contas no OnlyFans diante da falta de empregos ou de boas remunerações.

Celular com Onlyfans de uma mulher ligado
Imagem original por @charlesdeluvio, no perfil do Unsplash.com.

Se o motivo é primordialmente econômico, é preciso alertar sobre as violências digitais e considerar as duas faces da mesma moeda que o OnlyFans traz: o dito empoderamento das mulheres escancara a falta de oportunidades. É o retrato da desigualdade de gênero. Logo, é preciso que as mulheres realmente possam falar em escolha, em empoderamento.

A conquista da liberdade sobre seus corpos e da sexualidade é de grande importância na luta pela autonomia das mulheres, incluindo a sexual. Mas esbarramos diariamente com a hipersexualização do corpo feminino, tão enraizada em nossa sociedade, e que não costumamos questionar. Assim, chamar de empoderamento a hipersexualização do corpo feminino no OnlyFans é um esvaziamento do seu sentido primordial.

Talvez a conversa de hoje tenha sido diferente do que você esperava. Mas é importante ter conhecimento, informação e leitura para poder realmente fazer uma escolha e falar em empoderamento.

Sendo o foco a autonomia da mulher no seu sentido amplo (emocional, sexual, financeiro), além do poder de escolha, é preciso ficar atenta sobre como está sendo vendido o discurso de empoderamento feminino.

Manter uma norma sobre o “ser mulher e o que é a sexualidade feminina” pautada no que há de mais tradicional e patriarcal, que é a hipersexualização e a objetificação de mulheres, é negar as consequências emocionais e sociais que as mantêm no lugar de subalternidade.


Texto publicado originalmente em ND+

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